Por que falham os programas de Bem-Estar Corporativo – E o que mudar

É necessário repensar os programas de Bem-estar e Saúde Corporativa.

Se, por um lado, existe a implementação de programas de saúde no local de trabalho, é necessário perguntar: será que existe retorno do investimento? Apesar de existir um aumento claro na preocupação que as empresas têm com seus colaboradores, é também claro que a maioria dos programas de saúde existentes – independentemente da sua intenção positiva – são elaborados e operacionalizados de forma superficial. Vejamos: a maioria destes programas não (1) eleva a cultura organizacional das empresas, (2) inspira um compromisso motivado dos seus colaboradores e (3) não se relaciona com objetivos estratégicos e de negócios.

Qualquer programa de bem-estar que não esteja alinhado com as necessidades reais dos seus ativos e com a estratégia empresarial significa que falhará na obtenção de resultados concretos e mensuráveis a longo-prazo.

Desde 2003 que o tópico da melhoria do bem-estar e redução do estresse pode ter inúmeros benefícios para as organizações, nomeadamente aumento da performance, melhoria das relações, redução de episódios de doença e taxas de absenteísmo 1. E dentro da gestão dos recursos humanos é importante que sejam implementados programas de saúde. No entanto, a maioria destes programas não são operacionalizados de modo a atingirem o seu potencial máximo e a efetivamente suprirem necessidades específicas da força de trabalho.

Mas, através de modelos mais holísticos e de interação, os colaboradores poderão alcançar resultados superiores aos esperados inicialmente – resultados que superam a saúde e os custos provenientes do mesmo. Nos referimo especificamente a uma interação laboral genuína, satisfeita e ativa. Nesta perspetiva, um colaborador que se encontre genuinamente satisfeito no seu local de trabalho, terá uma maior rentabilidade e investimento pessoal para com a empresa. E se o funcionário estiver ligado ao atendimento ao público, isto se traduz em clientes mais satisfeitos.

De que forma deverão estar organizados os programas de bem-estar?

Nas empresas que aplicam programas de saúde, encontramos muitas vezes metodologias e sistemas desajustados à forma de pensar, trabalhar e agir dos colaboradores – especialmente, àquilo que estes verdadeiramente necessitam ou querem.

Mas, o que querem os colaboradores afinal?

Como Barry Schwartz já demonstrou, os trabalhadores procuram uma sensação de propósito no local de trabalho, assim como o desenvolvimento de sentimentos de comunidade, pertença, valor e autonomia. E deverá ser esta necessidade de motivação que é relevante nas taxas de participação em programas de saúde voluntárias.

Ou seja, priorizando estes aspetos, conseguiremos o potencial de expandir as taxas de sucesso, ao mesmo tempo que a força de trabalho se torna satisfeita e se aumenta a taxa de retenção de talentos. Especialmente porque empresas que se posicionam como de apoio e preocupadas (genuinamente) as necessidades de saúde física e mental dos seus colaboradores terão uma vantagem considerando o contexto atual de isolamento e insatisfação pessoal.

E qual o papel do CEO no “Bem-estar”?

Geralmente, ao perguntar um executivo sobre as prioridades empresariais, tipicamente a resposta se centra no aumento de receitas, quotas de mercado, preço das ações, lucro e satisfação dos clientes. Alguns até poderão referir a retenção de talentos ou até a criação de uma cultura organizacional para atingir esses objetivos.

No entanto, é fundamental que a implementação de programas de bem-estar e saúde sejam vistos e abordados de um ponto de vista estratégico. Mas por que não o é? A dificuldade existente na medição do retorno do investimento e do impacto na produtividade dos colaboradores faz com que os benefícios ao sucesso da empresa não sejam visíveis de forma objetiva e clara.

Uma investigação recente da Deloitte demostra como se encontra desalinhado até 45% o que o empregado e o empregador valorizam, enfatizando que o Bem-estar corporativo deve emergir como uma prioridade estratégica no seio das empresas.

Ou seja, podemos concluir que os resultados associados com uma força de trabalho energizada e envolvida deverão ter o potencial para convencer um CEO ou diretor de Recursos Humanos a adotarem uma abordagem mais incisiva e direcionada para o bem-estar.

Os colaboradores querem programas viáveis e funcionais.

Através de uma análise de inquéritos para determinar as perceções gerais dos programas de bem-estar tanto na perspetiva do colaborador, como da empresa, os especialistas da John Hopkins Bloomberg School of Public Health, determinaram que 59,4% dos funcionários pensam que as empresas devem ativamente tentar melhorar a saúde dos seus empregados.

É um facto que quanto mais empresas adotam e implementam programas de wellness, o número de colaboradores e talentos que consideram estas medidas importantes na sua escolha tende a aumentar.

No entanto, para além de todos os aspetos que justificam estes programas, é possível encontrar mais evidência de que – para além de todos os benefícios mencionados – o bem-estar aumenta a adaptabilidade dos funcionários.

O estudo da Gallup determina que colaboradores que se encontram mais ativamente envolvidos no decorrer das suas funções e que também beneficiam de altos níveis de bem-estar são 45% mais prováveis a se adaptarem adequadamente a alterações no ambiente.

Empregados mais resilientes e que se adaptam mais facilmente são fundamentais para o sucesso empresarial – para além de não serem geradores de conflito, aceitam os desafios e tomam iniciativa na procura de soluções para os desafios.

Que lições poderemos aprender?

A implementação de programas de saúde corporativa é um tema ainda em expansão, mas o qual começa a ter uma relevância no seio do panorama nacional.

Desta forma, face a todos os argumentos apresentados anteriormente, poderemos perceber e assumir que a ausência de um plano estratégico formal para estes programas fará com que qualquer programa de saúde e bem-estar sejam executados sem objetivos claros e definidos, o que traduz na ausência de resultados mensuráveis e específicos.

Agora, para que os mesmos decorram sem percalços, tal como mencionado, é necessário que exista um envolvimento da equipa de liderança, de modo a aumentar as taxas de participação e consequentes resultados. Assim sendo, os líderes desempenham um papel fundamental na criação de ambientes laborais saudáveis e que valorizem o bem-estar dos seus colaboradores.

A administração deverá ser o principal instigador e tornar visível o programa na organização.

Mas, não só: a recolha de dados é imprescindível para uma adequação correta e na tomada de decisão – para que os programas tenham maior taxa de sucesso é necessário que sejam específicos à realidade de cada empresa. Se não existem duas empresas iguais, por que deverão ser os programas idênticos?

É altura de ter uma visão mais abrangente sobre saúde por forma a integrar o indivíduo e as equipas num todo, assim como todo o sistema e ambiente de trabalho em prol de um bem-estar comum e num caminho de produtividade, comunidade e crescimento.

¹De Neve, Jan-Emmanuel and Diener, Ed and Tay, Louis and Xuereb, Cody (2013) The objective benefits of subjective well-being. CEP Discussion Papers, CEPDP1236. Centre for Economic Performance, London School of Economics and Political Science, London, UK.; Well-being: The foundations of Hedonic Psychology, Publisher: Russell Sage Foundation, Editors: D. Kahneman, E. Diener N. Schwarz, pp.392-412

Escrito por:

Iron

A solução para o bem-estar corporativo.

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Categoria Produtividade