A forma como conhecemos e encaramos o trabalho tem sofrido alterações ao longo dos anos. Numa era de empregos e funções cada vez mais específicas e ambientes que exigem profissionais multitalentos, surgiu um novo conceito: o job crafting.
Já está mais que comprovado que a satisfação tem uma correlação direta com a produtividade, pois não resta dúvidas que a felicidade é um fator predominante para conquistar a alta performance.
Em 2001, duas pesquisadoras americanas, Amy Wrzesniewski e Jane Dutton, estudaram pessoas que atuavam em profissões consideradas desvalorizadas. Se focaram em profissionais da área de limpeza de um hospital em Midwestern e descobriram que os trabalhadores estavam criando “funções” próprias para mudar a sua perspetiva.
“Ficámos muito entusiasmadas pela forma como, mesmo num trabalho muito restrito, com vários espaços para limpar num curto período de tempo, eles faziam pequenas coisas para agregar significado. Coisas como pequenas atitudes para ajudar os pacientes e as suas famílias”, afirma Dutton.
Daí surgiu o conceito job crafting – que se refere a uma prática de reconstrução e ampliação do significado do trabalho, sem delegar essa responsabilidade exclusivamente à empresa, tornando uma relação mais afetiva com as funções exercidas.
Nesse mesmo estudo, Amy e Jane apresentaram diferentes perceções que os indivíduos têm sobre suas funções:
- O primeiro grupo considerava o seu trabalho como mero cumprimento de rotina, com pouca satisfação e poucas interações sociais, buscando apenas receber o seu salário no final do mês.
- O segundo grupo compreendia que as atividades ali realizadas ajudavam as pessoas e melhoravam a vida dos pacientes, entendendo que a sua atividade fazia parte do processo de cura das pessoas.
Foi concluído que esse segundo grupo, que consegue dar um significado às suas funções, são mais felizes e também mais produtivos.
Quando um profissional recebe uma descrição vaga de suas funções e obrigações, inconscientemente este se limita a essa descrição. Já quando ele transpõe essa barreira e começa percebendo as possibilidades de outros aspetos no seu trabalho, este passa a praticar job crafting.
No fundo, o job crafting é a representação de proatividade, permitindo que cada um aplique as suas potencialidades para transformar o seu trabalho em algo verdadeiramente significativo.
Qual a importância de aderir ao conceito?
- Valorização da função;
- Maior satisfação e produtividade;
- Engajamento com a empresa;
- Bem-estar;
- Curiosidade para experimentar novos métodos;
- Criatividade;
- Engajamento social;
- Comprometimento;
- Melhor performance de trabalho;
- Impactos positivos na liderança.
Como implementar na empresa?
A implementação do job crafting conta com três etapas básicas:
- Task crafting: alteração das atividades e tarefas do dia-a-dia, através da adoção de novas tecnologias e do englobamento de tarefas consideradas importantes para a execução do trabalho.
- Relational crafting: renovação do seu relacionamento interpessoal com os outros e mudar a sua perspetiva sobre o motivo pelo qual faz o seu trabalho.
- Cognitive crafting: reformulação das interações e perceções sobre o sentido do trabalho e as oportunidades de atuação de uma função, bem como a consciência do impacto do seu trabalho.
É possível incentivar o job crafting por meio de:
- Delineamentos de funções mais flexíveis;
- Reuniões de trabalho interativas e que estimulem a participação;
- Metas estratégicas desafiadoras em termos de criatividade;
- Intervenções e exercícios de job crafting;
- Estímulo à inovação de processos;
- Apoio à realização do trabalho e autonomia para decisões de rotina.
“O job crafting faz parte da inovação e da adaptabilidade do trabalho. Isso alinha as pessoas de forma mais clara com os seus talentos, interesses e pontos fortes. Em logo prazo, se isso acontecer como uma parte da cultura de um ambiente de trabalho, isso pode fazer com que toda a organização atue de forma mais eficaz, simplesmente porque as pessoas estão bem alocadas de maneira a contribuir mais” esclarece Dutton.
